Segunda, 29 Abril 2024
A+ R A-

Antônio Arrais de Oliveira

Antônio Arrais de Oliveira (Campos Sales)  - Jornalista tolerância zero In memoriam

 

A imprensa em Brasília ficou mais pobre sem o jornalista cearense Antônio Arrais de Oliveira , um dos editores da Agência Brasil. Ele morreu aos 64 anos, vitimado por um infarto fulminante.

 

Arrais nasceu em Campos Sales, no Ceará, filho de Armando Burlamaqui Oliveira e Francisca Alba Arrais, e se mudou com a família para Pernambuco. No Recife, estudou e se formou jornalista em 1976. Trabalhou em vários jornais de Pernambuco como Jornal do Comércio, Diário de Pernambuco e nas sucursais do Jornal do Brasil e do jornal O Globo.

 

Em 1978, foi transferido pelo jornal O Globo para a sucursal Brasília e trabalhou em O Estado de São Paulo, na Radiobrás em 1987 e esteve cedido por 12 anos ao Tribunal Superior Eleitoral, ao Senado Federal e à Procuradoria-Geral da República, onde atuou como coordenador de Comunicação Social. Em 2003, retornou à Empresa Brasil de Comunicação (EBC) para trabalhar na Agência Brasil, colaborou com a Comunicação Social no último ano, retornando à Agência Brasil em agosto passado com a função de editor.

 

Em 1983, casou-se em segundas núpcias com Thelma de Morais Balduíno Arrais de Oliveira, nascida em Goiânia, filha de Maria de Lurdes Morais Balduíno e Francisco Balduíno Santa Cruz.

 

O casal tem dois filhos, Marcelo, com 27 anos, biólogo, trabalha na Polícia Federal; e Rodrigo, de 25 anos, químico, trabalha no Ministério da Integração.

 

Do primeiro casamento, dois filhos, Leonardo, professor universitário de Filosofia, na Universidade Estadual de Pernambuco; e Daniela, que é jornalista em São Paulo.

 

Como repórter, Arrais correu o Brasil e o exterior, fazendo coberturas, acompanhando presidentes. No velório, Roberto Stefanelli lembrou a viagem que fizeram a Mato Grosso, acompanhando o presidente João Figueiredo. Beto pela Folha e Arrais pelo Globo. Depois de um dia corrido de cobertura, chegam exaustos ao hotel, pedem a conta e a nota fiscal, exigida pela tesouraria do jornal na hora de prestar contas dos gastos da viagem. Em nome de quem? Tira em nome de O Globo, diz Arrais. Já estavam voando de volta a Brasília quando Arrais resolve conferir as notas fiscais. Tudo ok, perfeito, só um porém. A nota mais alta, fornecida pelo hotel, estava em nome de Hugo Lobo, no lugar de O Globo. Fazer o que com aquele funcionário do hotel que não compreendeu suas palavras?

 

Rejane Limaverde, que morou no apartamento dele quando chegou do Ceará, lembra que ele era cheio de mania. Por exemplo: mesmo atacado pela gota, não abria mão de um pedaço de carne no almoço. No restaurante Beirute, tem um prato batizado de “Filé do Arrais”. Outra mania: detestava quando alguém pegava no copo em que estava bebendo. Mandava trocar na hora. Um dia, tirou as lentes de contato e colocou num copo com água, segundo ele, para não ressecar. Era época de baixa umidade do ar. E cochilou o suficiente para o Emerson de Souza esconder o copo com as lentes e colocar outras no lugar. Ao despertar, flagrou o Emerson simulando que estava bebendo a água. Arrais, já irritado, gritou desesperado “cuidado com as lentes no copo”. Quando descobriu a brincadeira do colega, ficou mais zangado.

 

Apesar de ser metódico e mal-humorado, era muito querido pelos amigos, que se divertiam com seu jeito de ser. Apaixonado por livros e CDs, era fã da voz de Gal Costa. Dizia que se ela gravasse um “reclame” da Coca-cola, ele comprava. Sua última promessa foi paga na manhã em que morreu. Levou para o colega Mamcasz a garrafa de cachaça velha que havia prometido. Mamcasz ainda brincou: – Está fechada, com selo e tudo? A provocação tinha sentido. Arrais nunca aceitou garrafa de cerveja trazida à mesa aberta pelo garçom sem ser na frente dele.

 

Na noite daquela mesma terça, dia 14, em casa, ao lado da mulher Thelma, foi traído pelo coração, que resolveu parar bem na hora do jantar. Deixou além da viúva, quatro filhos: Marcelo, Rodrigo, Leonardo e Daniela. O corpo cremado, vira cinza. Suas histórias, como na literatura de cordel, vão passar de boca em boca. Vão se espalhar mantendo viva a sua memória. Um jornalista “tolerância zero” que gostava de música, da família, de comer carne, dos amigos, de livros, da vida. (WI)