Segunda, 29 Abril 2024
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Andrade Jr.

Andrade Jr. (Fortaleza) - Ator de cinema e de teatro 80 filmes e 40 peças de teatro  

 

Argemiro Gomes de Andrade Junior nasceu no Benfica, em 14 de setembro de 1945, filho de Argemiro Gomes de Andrade e Anésia Gomes de Andrade, ele de Baturité e ela de Quixadá, motorista de jeep, táxi em Fortaleza; ela, dona de casa.

 

Eram dez irmãos: Vera Lúcia, Argemiro Jr., Vladimir, Anália, técnica de Enfermagem da Fundação Hospitalar do Distrito Federal; Raimundo Nonato de Andrade, químico do GDF, aposentado e prof. da Fundação Educacional do GDF; Abenoé Gomes de Andrade, fiscal da Saúde do GDF; Sheila Andrade Parente, casada, funcionária do Ministério dos Transportes; Lucia Elizabete Castelo Branco de Andrade, casou-se com um americano e mora em Alida, na Califórnia, ficou viúva e casou-se de novo; Kedma Vaz de Andrade, aposentou-se pelo GDF no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN); Eda Pinheiro de Andrade, portadora de necessidades especiais.

 

Andrade Jr. estudou no Colégio 7 de Setembro, na Av. do Imperador, onde morreu atropelado na porta do colégio um irmão seu com apenas nove anos. Lá ficou apenas até a 2ª. série ginasial.

 

Em 1º. de maio de 1959, Argemiro pai, depois de vender o táxi e tudo o mais, tocou corneta, reuniu a família e vieram todos para Brasília, então o Eldorado dos brasileiros, aqui desembarcando na condição de pioneiros, de avião, pela Real Aerovias.

 

“Em Brasília, fomos morar no Núcleo Bandeirante, Cidade Livre, ponto de encontro de todos os migrantes. Depois de dois meses, fomos para a Vila Amauri, que ficava em frente ao Cota Mil, inundada pelo Lago Paranoá, que ainda não existia. Aquilo era a ‘Atlântida de Brasília’ que está debaixo d’água. Quem quiser pesquisar que se habilite. Era maior do que a Vila Planalto atual, com 20 mil pessoas, ia do Cota Mil até o Paranoá. Tinha galpões das empresas, bodegas, lojas, restaurantes, depósitos, etc. Tempos difíceis. Recordo que as pessoas do Sul não comiam a parte dianteira do boi. Lá ia eu de carrinho de mão e recolhia e levava para casa, inclusive costela e músculo.”

 

Argemiro pai foi motorista de caminhão de obras, d. Anésia fazia almoço para candangos.

 

Aos 13 anos, Andrade Jr. foi trabalhar na construção do Palácio do Planalto, na empresa de Salim Badra, que era contratada pela Pachceo Fernandes, no almoxarifado. Sabia ler e escrever e se diferenciava. Um dia Juscelino, que chegou ao canteiro de obras, surpreende-se com sua presença e ele teve que explicar que ficava no almoxarifado!

 

No final de 1959, Argemiro pai ganhou lote comercial em Sobradinho, 20x20, onde construiu casa na Quadra 11, hoje Quadra 9. Andrade Jr. largou o Palácio e foi para Sobradinho a fim de tomar conta de um do armazém que vendia de tudo. Chegou a matar 30 porcos por dia, para venda de carne. Os irmãos mais velhos também trabalhavam no armazém.

 

Não estudou de 1959 a 1963, em primeiro lugar a sobrevivência, e, no Bandeirante e na Vila Amauri, não tinha colégios, nem no Bandeirante. Só em Brasília, Colégio Brasília.

 

Andrade Jr. batia uma bolinha, especialmente nos campos do Rabelo e do Defelê que ficavam na Vila Planalto, implantada após a inundação da Vila Amauri e formação do Lago Paranoá. Confessa que matava no peito, driblava bem, chutava com as duas, dava de caneta e de arrodeio, o que o levou a ser chamado para o Sobradinho. Seu bolão chamou atenção de olheiros do Vasco da Gama, Atlético Mineiro e River Plate. E afirma que não é lenda.

 

Em 1963, com 18 anos, voltou a estudar em Sobradinho e conheceu a filha do Paulo Freire, aderiu ao método de alfabetização do pai dela e embarcou na proposta “de pé no chão também se aprende a ler”. Chegava à sala de aula, dava um debate sobre as coisas da vida e depois abria a cartilha de alfabetização.

 

Em 1963 virou presidente do Grêmio da Escola de Sobradinho, reeleito em 1964. Um dia os militares chegaram à escola, pediram para falar com ele, e lhe perguntaram se estava articulando alguma greve. Respondeu que não e que estavam precisando de bola e rede para jogar futebol. Eles atenderam à sua solicitação, mandando bola e rede.

 

Em 1964, na escola de Sobradinho participou de uma reunião do diretor, prof. Celso, que contou com a presença do então líder estudantil, José Dirceu. Coube à sua mãe fazer a comida para todo o pessoal. Não houve qualquer consequência.

 

Andrade Jr. terminou o curso colegial no Colégio de Planaltina e começou a trabalhar no audiovisual do Colégio de Sobradinho, passando depois, em 1970, para o Colégio da Asa Norte (CAN), onde chegou a chefe do setor. O CAN hoje é o Colégio Paulo Freire.

 

Ele e seus irmãos, Raimundo e Abnoé fizeram, no mesmo ano, vestibular para a Universidade de Brasília, passaram. Ele, Raimundo, Química; e Abnoé, Física. Ele abandonou o curso. Os irmãos foram adiante, Raimundo foi perito da Polícia Federal, mas optou por ser professor de Química do GDF.

 

Em 1972, Andrade Jr. casou-se com Talma Pereira de Andrade, paulista da Vila Maria, bibliotecária, que trabalhou na extinta Siderbrás.

 

Tiveram três filhos: Randau Pereira de Andrade, músico e fotógrafo, tem uma filha Yasmin; Hugo Pereira de Andrade, empresário, tem uma filha Ananda; e Cássia Pereira de Andrade, com um filho.

 

Seu Argemiro morreu em 1995 e d. Anésia, em 1994.

 

Andrade Jr. tornou-se conhecido por fazer teatro e cinema, foram mais de 80 filmes e mais de 40 peças de teatro.

 

O primeiro filme foi em 1970, com Vladimir de Carvalho, Vestibular 1970. Não parou mais. Em poucos foi ator principal, mas nunca se incomodou em fazer ponta. Também não se importava se fosse longa ou curta. “No cinema, qualquer papel me agrada”, confessa. O cinema lhe deu muito reconhecimento. Como melhor ator foi premiado nos festivais de Fortaleza, São Luís, João Pessoa. Filmes de que participou ganharam prêmios em Brasília, Natal, Gramado, Patos, Florianópolis. Isso não significa que tenha ganhado muito dinheiro. Mais recentemente fez uma ponta em Faroeste Caboclo, como seu Quirino, dono do puteiro. Foram quatro filmes este ano e já se prepara para um longa, Pais do Futuro!, de Santiago Dellape, com quem fez Ratão.

 

No teatro, andou com grupos teatrais por vários países da América Latina e por quase todas as capitais brasileiras. Gostava muito de participar dos textos de Plínio Marcos. (JBSG)