Segunda, 29 Abril 2024
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Gonçalo Gonçalves Bezerra

Gonçalo Gonçalves Bezerra (Ipueiras) - o Pai da Ceilândia e criador da Casa do Cantador

Gonçalo Gonçalves Bezerra, Gongon, o Pai da Ceilândia, nasceu em 7 de setembro de 1939, no sitio Bacamarte, a9 léguas de Ipueiras, que 330 km de Fortaleza, filho Francisco Fortunato Gonçalves , nascido em Pedro IIi no Piauí, e Gonçala Maria Bezerra, de Ipueiras. Era agricultor, lavrador, caçador, “pegava viado correndo atrás” e matemático. Tinha criação de bode e fazia queijo de leite de cabra. Casaram em 1929, ele com 28 anos e ela com17

 

Nasceram 15 filhos, sete morreram e oito escaparam:. Cícera, Joana, Bento, Gonçalo, Francisca, Agostinho , Francisco das Chagas e Raimundo. Todos puxaram enxada com o Sr; Francisco.

 

Quando Gonçalo completou nove anos, o Sr. Francisco teve um derrame e foram morar nos Tucuns, onde vivia Joana casada com Luis Faustino. Depois, foram mudaram-se para Patos distrito da matriz de São Gonçalo, terra dos cocos, que em 1950 comemorou o bicentenário. Ficava perto na fazenda do avô materno, Bento Bezerra do Vale casado com Francelina Maria de Jesus. Lá aprendeu o abc, “estudei um mês e 15 dias, trabalhando na roça, alugado, puxando enxada pros outros e sustentar o pai doente”.

 

Em 1958, ano de uma grande seca que afligiu o Nordeste, “fui trabalhar em Perua Doida, entre Pedro II e Periperi, numa frente de trabalho construindo uma estrada. Foram; foram 20 leguas a pé dos patos a Pedro II A seca era muito braba. A coisa pior do mundo é passar.fome. O dia é comprido. Sem um centavo no bolso e sem conhecer ninguém. Passei. Depois de muito andar, exausto, Encontrei um cristão que me deu um prato de comida. De Pedro II fomos para a Lagoa do Sucuri., uma turma de 25 homens, com um mochila de farinha e um bocado de rapadura”.

 

Foram cinco meses de sofrimento. Todo mundo com fome O encarregado mandou buscar comida no fornecimento. O fornecedor recusou o pedido feito em papel de cigarro BB, queria papel do DNOCS. A coisa complicou. Reunimos sete homens. Foram lá armados de facão e facas. Chegaram famintos e viram muita farinha, rapadura, queijo, arroz , feijão. O encarregado negou. Passaram o facão e estriparam um saco de farinha que comeram com rapadura e queijo. Madaram o encarregado ficar quieto. Se piasse seria passado na faca. O dono do fornecimento, Nonato Brandão chegou e o clima tenso. Liberou a comida e demitiu o encarregado. Nonato era irmão do deputado federal Nilton Brandão que conseguira a frente de trabalho”.

 

Voltei para o Ceará e trabalhei noutro frente de trabalhei em Ipueiras. Não gostei.

 

Conheci o sr. José Artur Orlando, da Barriguda, que vinha para Brasília, num pau de arara, com cobertura de lona e bancadas de madeira. Era um fenemêzão. Me alistei. O pagamento seria feito no destino. Embarcamos 63, com amigos e conhecidos, fugindo da seca. No dia 20 de novembro de 1958, saímos ao meio dia de Abilio Martins, entre Ipu e Ipueiras. Gastamos 14 dias e meio. Em Belém do São Francisco ´passou um caminhão que tirou um fino no nosso carro, que balanço, muitos se feriram. Eu quebrei um braço, Em Floresta a policia rodoviária parou o carro para socorrer os feridos. Em Eucides da Cunha, tentei encanar mas não tinha dinheiro para pagar. Me deram mastuz para envolver o braço numa tipóia. Doia muito. Era só para tapear. Em 4 dezembrop de 1958, as 10.30, chegamos àa Cidade Livre, na Novacap, no Nuncleo Bandeirante. Almoçamos no SAPS. Devia 70 contos da viagem..

 

Comecei no dia seguinte na Civilsan quando fui fichado;O Zé Artuir, comprou por 400 contos, o Hotel Maringá, na 3ª. Avenida, nº 180, e me chamou para ir pro hotel e tratar do braço, até ficar bom. Veio o caminhão levar o pessoal na Civilsan e . cavar vala. Tinha dificuldade porque o braço doía muito. Encontrei um primo da minha mãe . Antonio Bertoldo, que era o encarregado. Quando me viram com o braço daquela condição me levaram para o medico do IAPI, que me deram licença , quebraram de novo meu braço, emendaram direito. Recebi um adiantamento do seguro e paguei os 70 contos que devia ao Zé Artur e mandei um dinheirinho pra casa;. Sarado, voltei ao trabalho.

 

Depois da Civilsan, trabalhei na construção da CVB, no SAI.AI.

 

Em 1961, mudou o rumo de sua vida, depois de ir e voltar a Ipueiras. Foi trabalhar por conta própria como fotógrafo. Fez um curso de fotografioa.

 

Em 1963, foi trabalhar como corretor de imóveis vendendo o loteamento Bolsão, em Ceres/GO..

 

Ainda em 1963 casou com Raimunda Naide Alves Bezerra, nascida em Solonópole, ao lado de Acopiara. Pai de ela , Antonio Alves da Silva, guarda freios da RVC, em Fortaleza. Veio para Brasília e aqui trabalhou como pedreiro no INPS na Asa Norte. “Fomos morar numa chácara do Sr. Armindo Torres Gomes, depois morou na 404 Norte no Bloco 27, apto. 204, e na Velhacap, no Núcleo Bandeirante, onde comprou um barraco”.

 

Filhos: Rosária, Juiza arbitral, solteira, filhos Tatiane, 32, Iron, 31, e Igor, 30, Priscila, 28; Euripedes,juiza arbitral, filhos Clarissa. 20,. David, 16, Daniel, 11; Rosalva casada com Manuel Mendes, oficial do Exercito, filhos Sara, 20, e Paulo Marques, 17; Rosiane. casada com José Gomes,filhos Felipe, 18, Pedro Henrique, 11; Gabriella, solteira, Ester.7. Ao todo, seis filhos, 12 netos.

 

Trouxe todos os irmãos.Joana, Cicera e Francisca; vieram e morreram aqui, , Bento., veio e voltou, Raimundo.Sua mãe. Gonçala, tambem veio e morreu .

 

Gonçalo conta que soube das invasões na L2 Norte, ao lado do Hospital , em frente ao a $04 Norte. Fiz um barraco e encarei a Polícia. Fui parar na delegacia. O prefeito Wadjo Gomide resolveu limpar o Plano de Piloto de todas as invasões. Fomos para a Invasão do IAPI, que tinha 10.696 barracos, no Núcleo do Bandeirante e compreendia ainda a Vila Tenório, com 2.712 barracos, Vila Esperança com 1.886 , , Vila Bernardo Sayão com 460, Morro do Querosene, com 497 . Perto ficava o Morro do Urubu, com três casas de prostituição. Na Invasão do IAPI , me fixei na Ruaa Asa Norte, letra D, 16. “Cruel foi que tínhamos que , tinha que levar o barraco nos costas e montar lá; sem água e sem luz, sem transporte”.

 

Em 11.05.61 criei a 1ª; Associação de Moradores de Brasilia e a Associação Pro-Melhoramento dos Moradores da Vila do IAPI. Mais de 200 pessoas participaram da 1ª.assembléia geral. Decisão unânime: “ Hoje vamos mudar o nosso destinp. Ous as coisas melhoram aqui, no IAPI ou o governo cria uma nova cidade para nós. Da frma que estã não pode ficar. Ao se pode viver num lugar sem água, sem energia, sem segurança sem nada” Levamos a reivindicação ao prefeito Wadjo Gomide que nos disse que era impossível a urbanização a Vila IAPI , teríamos que sair e que iria procurar uma área . Pensou nos levar para o Guará, nos vendendo casas pelo SFH. Mostrei que “não temos renda para nos enquadrar no SFH. Não seria uma solução mas um novo problema. Lá ficamos humilhados e abandonados”

 

Em 1969, quando o prefeito Helio Prates da Silveira, sentou na cadeira, pedimos audiência . Expusemos o nosso problema. Dias depois me chamou ao seu gabinete e disse que o problema da invasão era pior do que disseram e que não dava para fazer assentamento. Contou que alguém sugeriu que fossemos para Planaltina mas ele mesmo achou a ideia infeliz por causa da condução. Dias depois me chamou me disse que tinha uma área do Exercito na Ceilandia, e que iria falar com o Presidente Medici para arranjar outra área para o Exercito no Paranóá e nos liberar Ceilandia para construção de uma nova cidade satélite, o que ocorreu em 14 de dezembro de 1970

 

“ Quando o cara sofre demais, não acredita em mais nada. Levei o povo do IAPI para conhecer Ceilandia. A reação foi de frieza. Helio Prates mandou fazer a infraestrutura de arruamento, água, luz, esgoto;. Precisaria um ano para preparar tudo e mais um ano para a remoção. Montamos uma operação de guerra, . Era o xerife. 31 caminhões , trabalhando de manha e tarde, levando a mudança dos barracos da Invasão , iniciada em 27.03.1971 e concluida em 09.03.1972;. Foram removidos 14.690 barracos e 82.904 pessoas. Recebemos lotes. O meu na CNM 20 conjunto C casa 44. Levei 20 anos para ter asfalto na porta”.

 

Gonçalo, na Ceilandia, abriu nova frente de luta para acolher a sua paixão e de muitos nordestinos que ouparam a Ceilandia. Construir a A Casa do Cantador, que é o único projeto de arquitetônico de Oscar Niemeyer nas Cidades Satélites. Organizou um festival de cordel e repente e peiu audiência ao governador José Aparecido. O ajudante de ordens disse que a aujdiencia era de uma hora e ficou de mandar um onibus para levar os cantadores a Águas Claras. Não mandou. Alugou caminhões velhos e foram para Aguas Claras em 1ª. de dezembro de 1985. Levou 60 pessoas Cantadores-repentistas, coquistas-emboladores e poetas cordelistas. O horário apertou. Gonçalo disse o que queria, reclamou que otempo era curto. José Aparecido disse que esatava gostando, mandou cancelar tudo na agenda , fazer merenda e almoço e jantar para todos. Anunciou iria constaruir a Casa do Cantador, com projeto de Niemeyer, o que fez e inaugurou em 9.11.86 com a presença do Prsidente José Sarney, d., Sarah, ministro da Cultura, Celso Furtado. Não usou um centavo do governo, tudo feito com doação.

 

Hoje, Gonçalo preside a Federação Nacional das Associações de Cantadores e Repentistas e Poetas Cordelistas, o Movimento Brasileiro de Cordel, a Revista Brasil Cordel., a Folha Nacional de Cultura, a Associação Recreativa e Habitacional dos Moradores de Ceilandia transformadas em Associação Brasileira de Arte e Cultura.

 

“Venci os grandes desafios de minha, o da seca no Ceará e no Piaui, a desesperança de milhares de invasores , em Brfasilia e a criação do templo dos cantadores” diz Gonçalo.O fiz com a coração e com o trabalho”. (JBSG)