Segunda, 29 Abril 2024
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Giovanni Cavalcante da Ponte

Giovanni Cavalcante da Ponte (Sobral) – Trouxe Sobral no coração

Cheguei a Brasília em fevereiro de 1972. Não sou dos mais antigos, mas meu amor pela cidade é igual ou maior que o de muitos candangos que ajudaram a construir a nova capital. Nasci em Sobral, a famosa Princesa da Zona Norte, no dia 3 de maio de 1952. Filho de Aurélio Cavalcante da Ponte e de Maria do Socorro Cavalcante da Ponte. Neto materno de Victor de Castro Cavalcante e Francisca Elisa Lopes Cavalcante; e, pelo lado paterno, de Samuel Gomes da Ponte e Antônia Zulmira Cavalcante da Ponte. Fui batizado como Giovanni Cavalcante da Ponte. Família grande, tenho tantos primos que um dia o jornalista Wilson Ibiapina ao descobrir meu parentesco com o padre deputado Zé Linhares, com o Tom Cavalcante, com o José Lírio e os irmãos que comandam a Só Reparos em Brasília, escreveu nota me chamando de primo de Sobral. Lá quem não é meu parente é porque chegou bem depois.

 

Sair daquele lugar, onde o calor humano é maior que a temperatura ambiente, não foi decisão fácil. Mas foi preciso. As coisas andavam um tanto quanto tumultuadas para mim desde que ingressara (1968, mais ou menos) em movimentos estudantis que visavam a derrubada do governo militar. Já estávamos em 1972 e eu ainda não havia acertado o passo na minha vida de estudante. Cursava, sem vontade e sem vocação, o curso de Engenharia Operacional em Sobral. O meu pai era figura de destaque na sociedade local e até mesmo no Ceará. Como comerciante, participava da diretoria da CDL, era governador do Lions no Ceará, e, como político, foi até candidato a prefeito. Eu, como “revolucionário”, queria mudar o Brasil na marra. Isso causava certo desconforto ao meu velho, que, apesar de tudo, não reclamava de minhas convicções políticas. Mas sentia-o incomodado, sim. Uma saída para minha vida, naquele momento, poderia ser aceitar os convites dos parentes (não sei se a pedido do papai), para que eu passasse uns tempos em Brasília. Aí eu estaria deixando de incomodar o meu velho, não sujando o seu cartaz. Foi aí que apareceu a carona...

 

No dia em que decidi viajar para Brasília era Carnaval. A nossa turma havia fundado o bloco dos Abutres que estava em todas. Passávamos o ano todo economizando parte da mesada para investir em Run Montilla e coca-cola que seriam consumidos no Carnaval. O estoque chegava a lotar uma garagem inteira, gentilmente cedida pelo Dr. Pedro Aurélio, pai do nosso amigo Pedro Mendes.

 

Eram cinco dias de folia e brincadeira, movidos a run com coca. De dia na rua, de noite nos clubes e de madrugada tínhamos que optar pelo banho de bica gelada na Meruoca, uma sopa no mercado ou um caldo de caridade no beco do Cotovelo para refazer as energias. Foi quando uma vez meu pai me perguntou: “você não acha que anda levando uma vida social muito intensa?!”

 

Pois foi em meio a essa folia que resolvi vir para Brasília. Por um motivo simples, ou deixava a alegria da festa e pegava carona no confortável automóvel Landau do tio Alencar, marido da tia Teca (irmã do papai), ou viajava depois. Entre enfrentar as léguas tiranas de carro ou pegar a estrada num banco duro do expresso Ipu Brasília, nem pensei duas vezes. Meu tio bem que podia esperar para viajar depois do Carnaval, mas ele tinha pressa e assim partimos. Durante a viagem, por mais confortável que fosse o automóvel, sofremos na estrada esburacada que competia com os hotéis e restaurantes sem a menor estrutura.

 

Chegamos a Brasília em pleno Carnaval. Ainda pensando no meu bloco e nos amigos sobralenses fui bater na W3 Sul para ver o desfile do Carnaval brasiliense. Que tristeza. Parecia que as pessoas estavam ali por obrigação, mais desanimados era impossível. Para minha surpresa, aparece na minha frente uma criança desfilando de porta-estandarte de uma das agremiações. Pensei logo em exploração de menores, uma menina daquele tamanho tinha que estar dormindo. Quando estava no auge da minha indignação, a porta-estandarte passa bem pertinho de mim, sambando com muita graça. Ah! mas que menina que nada. Era uma anã trajando um biquininho. Uma imagem marcante do meu primeiro Carnaval em Brasília.

 

Morei dois anos na casa dos tios Rogério e Rosa (ele, irmão mais novo do papai, e ela, irmã mais nova da mamãe). Hoje, ainda aqui residem. Depois, vim a morar, por 7 anos, na casa dos tios e padrinhos Antônio e Celina. Ele, pioneiro e falecido (Antônio Frota Soares), e ela, irmã do papai, reside ainda em Brasília. Como todos, tios, primos e amigos foram comigo tão generosos, fui por aqui ficando. Terminei faculdade, passei por alguns empregos, e desde 1977 estou trabalhando nos Correios (ECT). Diga-se de passagem, sempre sem apadrinhamento.

 

Casei-me, em 27 de outubro de 1979, com Flávia de Campos Pires, goiana de Catalão. Dessa nossa união nasceram a Marina e o Gustavo. A Flávia, minha mulher, nos deixou ainda nova.Viveu e morreu em Brasília, há 7 anos. Nossa filha Marina, com o marido Júnior e a minha neta Giovanna moram comigo, no Lago Norte; o meu filho Gustavo foi morar no Rio de Janeiro com sua mulher Amanda e o filho Nícolas, meu neto. O Ceará e, principalmente, Sobral predominam nas conversas com os amigos em Brasília. A capital que não para de crescer também é tema dos nossos papos. Acredito que valeu todo o nosso esforço para consolidar a cidade de todos os brasileiros. Só uma cidade como Brasília seria capaz de dividir meu amor por Sobral. (WI)