Segunda, 29 Abril 2024
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José Valder Nogueira

Jose Valder Nogueira (Acopiara) - carreira no Banco do Nordeste, no Banco do Brasil e no Banco Central In memoriam

 

José Valder Nogueira nasceu no sertão central do Ceará, na cidade de Acopiara, a 10 de setembro de 1936, caçula de seis irmãos, sendo seus pais o comerciante Júlio Freire da Silva e Maria Nogueira da Silva (d;Nenem Nogueira), parteira e vereadora da cidade.

 

Aprendeu as primeiras letras e fez todo o curso primário em sua cidade natal, onde permaneceu até 1948. Em 1949, deslocou-se para Fortaleza, ali realizando os cursos de 1º e 2º grau, no Colégio Estadual do Ceará – Liceu, estudando à noite e durante o dia trabalhando no jornal “O Povo”, seu primeiro emprego na capital cearense. Exercendo inicialmente a função de cobrador de anúncios, chegou ao cargo de Gerente de Produção, com incursões na área jornalística da empresa como repórter fotográfico. Só aí foram quase sete anos. A princípio, pensava seguir a carreira como jornalista profissional, empolgado que estava com a atividade dinâmica do jornalismo e com a convivência diária com alguns craques da imprensa cearense. Todavia, reconhecia que os seus pendores estavam mais inclinados para a matemática, lidar com números e cálculos. Mesmo assim, chegou a ser correspondente de alguns jornais e de agências de notícias, como a “Transpress”.

 

José Valder, ou Zevalder, como era mais conhecido, concluiu o curso científico em 1955, aos 19 anos, e, em seguida, prestou serviço militar no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), ingressando ao mesmo tempo na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Ceará. Em 1957, em busca de novas oportunidades embarcou para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como publicitário na empresa REPRENAES – Representação de Imprensa e Jornais dos Estados, na qual em pouco tempo foi alçado ao posto de Gerente Administrativo. Enquanto isso deu seguimento aos estudos, na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade carioca, os quais mais uma vez teve de interromper, a fim de ingressar, em 1960, no Banco do Nordeste, admitido por concurso público, com lotação em Fortaleza. Enquanto funcionário do BNB integrou o Grupo Cariri, com sede em Campina Grande, Paraíba, cuja finalidade era analisar e implementar projetos de desenvolvimento da agropecuária no sertão paraibano. Menos de dois anos depois, pede dispensa do Banco do Nordeste e ingressa, também através de concurso público, no Banco do Brasil, tendo sido designado para trabalhar na Agência do banco na cidade do Crato, na região sul do Ceará. Ali permaneceu de 1962 até julho de 1964. Durante esse tempo, dirigiu, como titular, o setor industrial da Agência, sendo o encarregado de examinar todas as operações de natureza industrial, além de, simultaneamente, colaborar com o setor rural, no exame de operações dessa área. No Crato conheceu Marly Saraiva Correia, jovem da sociedade cratense, com quem viria a casar.

 

Em julho de 1964, tem início a rápida ascensão profissional desse filho de Acopiara, considerado um dos recordistas em carreira do Banco do Brasil. Naquele ano, retorna ao Rio de Janeiro, transferido para a Diretoria Geral do banco, ainda sediada na antiga capital do país. Ali, ocupou diversas funções comissionadas na mais especializada carteira de crédito da instituição: a Carteira de Crédito Agrícola e Industrial (CREAI), da qual chegou a exercer a chefia.

 

Em dezembro de 1965 volta ao Ceará, a fim de passar o Ano Novo com a família, em Acopiara. Aproveita a viagem e vai ao Crato, a fim de pedir Marly em casamento, fato ocorrido na noite de Natal. A cerimônia religiosa de casamento se deu na Igreja São Vicente Ferrer, no Crato, no dia 27 de maio de 1967, dois meses depois de ele haver deixado a chefia da CREAI, atendendo a convite do presidente do Banco do Brasil, Nestor Jost, para ocupar o cargo de Assessor Técnico do Presidente, quando tinha menos de cinco anos de banco.

 

Em abril de 1973, ainda na Presidência, passou a prestar assessoria técnica em operações financeiras de nível internacional, em face da criação do Banco Multinacional (“European Brazilian Bank Ltd. – EUROBRAZ”), com sede em Londres, que o BB, como líder, levou a efeito em final de 1972. Como Assessor Técnico da Presidência, José Valder passou a exercer também a função de representante do presidente, para a América Latina, junto ao EUROBRAZ.

 

Logo que chegou ao Rio de Janeiro, em 1964, José Valder cuidou de concluir o curso de Economia, iniciado no Ceará, o qual fora também interrompido no Rio, em virtude do seu deslocamento para Fortaleza, a fim de assumir o emprego no Banco do Nordeste. Finalmente, concluiu o curso, com pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas, seguido de outros de especialização voltados para a Macro e Microeconomia, alguns realizados no Banco Interamericano de Desenvolvimento.

 

José Valder exerceu diversas missões no país e no exterior, especialmente para negociar acordos internacionais junto ao BID e BIRD (Banco Mundial), em Washington-DC. Entre os grandes projetos nacionais de que participou destacou-se o PROÁLCOOL, que ele considerava o mais significativo em termos dos serviços que prestou ao País. Todavia, nada lhe rendeu maior satisfação pessoal do que a criação da Agência do Banco do Brasil em sua cidade natal Acopiara, fruto do seu trabalho e prestígio junto ao presidente Nestor Jost. A Agência foi inaugurada no dia 19 de setembro de 1969 com a presença do vice-governador do Ceará, Humberto Ellery, de autoridades locais, entre elas o prefeito Jairo Alves, e do bancário José Valder Nogueira.

 

Em março de 1975, já residindo em Brasília, José Valdo foi posto a serviço do Banco Central, tendo sido designado para servir junto à Gerência do Crédito Rural, exercendo ali a função comissionada de Coordenador. Na mesma data e ano, encaminhou ao presidente do Banco Central o seu pedido de transferência para o Quadro de Pessoal da instituição.

 

No BACEN exerceu importantes funções, além daquela de Coordenador, a de Chefe de Divisão da Área de Crédito Agroindustrial e Programas Especiais; Chefe-Adjunto do Departamento dessa mesma área; e, por último, Chefe do Departamento. Representando o Banco Central, participou de vários Grupos de Trabalho, destacando-se os seguintes: “Proálcool” – Programa Nacional do Álcool; “Pronazem” – Programa Nacional de Armazenagem; “Procal” – Programa Nacional de Calcário Agrícola; e “PronagriI” – Programa Nacional de Assistência à Agroindústria; e o Programa de Reforma Bancária.

 

Em 1976, foi indicado pelo banco para tomar parte no Curso de Desenvolvimento Bancário realizado pelo BIRD, em Washington, onde, cinco anos depois, em 1981, participou de negociações junto ao Banco Mundial, visando obtenção de empréstimo para reforçar as fontes de recursos do Proálcool. Outra missão no exterior de que participou, foi no Japão, representando o Banco Central na assinatura de contratos de projetos e empréstimos do Programa de Desenvolvimento dos Cerrados – Prodecer.

 

Outra atividade desenvolvida por José Valder a convite de diversas entidades, inclusive universidades, foi a de professor e conferencista, dando palestras e ministrando cursos intensivos de capacitação, alguns deles promovidos pelo próprio Banco.

 

Quando se aposentou no Banco Central, em 1990, José Valder montou um escritório de consultoria de empresas e bancos e de desenvolvimento empresarial, em Brasília. Convidado por alguns amigos do Ceará a ingressar na política, chegou a filiar-se ao PFL, mas desistiu de candidatar-se a cargo eletivo. Em 1º de março de 2000, perdeu a vida em acidente de carro, próximo a cidade baiana de Seabra.

 

Três filhos - Valder Júnior, Cecília e Isabelle - resultaram do seu casamento com Marly Saraiva Correia Nogueira. (JJO)