Segunda, 29 Abril 2024
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Carlos Farias Pontes

Carlos Farias Pontes (Nova Russas) - Publicitário nascido na beira do rio Curtume

 

Nova-Russas, cidade pequena porém decente, situada nas margens do rio Curtume, afluente do Acaraú, foi o meu berço, em 4 de novembro de 1946. O Jaguaribe, ao sul, e o Acaraú ao norte do Ceará, este desembocando em Camocim, são os dois grandes rios que banham o Ceará. Atravessei o Acaraú de pequena canoa e me banhei no Curtume muitas vezes.

 

Fui criado livre, solto, na praça da Igreja, “no oco do mundo”, como diz a música Ingazeiras, do Fagner, que muito me agrada. Meu pai era um homem de coração muito bom, pecava por excesso de generosidade, pois nunca ouvimos de sua boca um palavrão nem fala alta, só baixa. Possuía uma mercearia que vendeu toda fiada e ainda perdoou todos os devedores. Por isso, quando morreu, o vestimos com a indumentária de São Francisco de Assis, pois merecia...

 

Na minha infância, os garotos se reuniam em frente a minha casa para irmos brincar na rua. Eu os convidava a brincar de triângulo, de bila (bola de gude), de papagaio (pipa), de carrinhos de mão que nós mesmos fabricávamos, com os paralamas de lata e estrutura de madeira, alguns até com faróis que acendiam, à pilha. Em 1958, houve uma grande seca no Ceará e meu pai veio trabalhar na construção de Brasília, onde se aposentou na Novacap. Aí eu inventei uma Brasília, uma grande árvore na beira do rio Curtume, para onde íamos com os carrinhos de mão. Era a predestinação de que eu viria morar em Brasília.

 

Com 14 anos, fui escolhido como bolsista para estudar no Colégio Apostólico de Baturité, em cima da serra, de saudosa memória. Ali jogava volibol, basquete, futebol de salão e passeávamos na Serra, num lugar denominado Caridade, próximo a Mulungu e Maranguape. Foi uma época muito feliz e o nível de ensino do ginásio dos jesuítas, que incluía o latim, era tão alto que corresponde ao de uma faculdade hoje em dia. Tanto isso é verdadeiro que, quando vim para Brasília, já com 17 anos, fui admitido pelo Ari Cunha como revisor do Correio Braziliense, por causa de umas poesias que carregava no bolso e lhe mostrei e pela confiança no meu conhecimento da língua portuguesa.

 

De Baturité vim inaugurar o Ginásio Santo Inácio na antiga Estância ou Nova Aldeota, onde estudavam os ricos como Tasso Jeiressati e Amarílio Macedo. Lamentavelmente, o Colégio de Baturité fechou e virou casa de retiro para casais. É um lugar maravilhoso, com paredes de pedras de 1m de espessura, parece um castelo, cercado de pés de café, cana de açúcar, e outras plantações. Havia engenho e casa de farinha.

 

Fiz Direito na UnB, mas, junto com colegas, como André Gustavo Stump e Carlos Henrique Santos, sabíamos que não iríamos advogar, pois já éramos jornalistas. Queríamos só um background ou um up grade profissional, para usar uma linguagem preferida hoje. Trabalhei no Correio Braziliense como Repórter de Cidade com os colegas Alfredo Obleziner, Humberto Queiroz, José Hélder de Souza, José Jézer de Oliveira. Bons tempos, cheguei a ir muitas vezes com a turma de linotipistas (profissionais antigos, hoje inexistentes), e das oficinas, de madrugada, após o fechamento do jornal, para os cabarés da BR 60, onde hoje é Valparaíso, na saída para Luziânia.

 

Servi o Exército, no Batalhão da Guarda Presidencial, e estudava no Elefante Branco para onde ia ainda de farda, pois não dava tempo trocar de roupa em casa. Aí havia uma aluna que se apaixonou por mim e me dava o garra embaixo, nos pilotis do colégio. Talvez tivesse a síndrome da paixão pela farda, como muitas garotas, – tipo “Maria Batalhão”, como se dizia –, pois se casou depois com um paraquedista norte-americano, daqueles que ficaram um tempo em Brasília no Brasília Palace Hotel, fazendo a aerofotogrametria do Brasil, principalmente da Amazônia, de olho nos nossos minérios...

 

Fundei a agência de propaganda Oficina de Comunicação, que foi a maior de Brasília, com 40 empregados, e fez escola. Tinha até gráfica própria, a Oficina Gráfica Editora. Tive orgulho de trabalhar para grandes clientes de Brasília, como a Encol, Só Frango, Brasal, além de contas governamentais. Fundei e fui o primeiro presidente do Sindicato dos Publicitários de Brasília, colaborando para profissionalizar os agenciadores de propaganda na época. E fui presidente do Sindicato das Agências de Propaganda do DF.

 

Tive gosto pela política desde pequeno. Em Nova-Russas, quando pequeno, subia no telhado de casa com um funil na boca, desses de encher caneco de água para os burros ou jumentos carregar, na falta de um megafone, e fazia propaganda para o candidato a deputado federal pelo Ceará Adolfo de Campelo Gentil. Por isso meu apelido de infância era Adolfo, ninguém me conhecia por Carlos... Aqui fui 2º. suplente do ex-senador Maurício Corrêa pelo PDT em 1988, nas primeiras eleições diretas em Brasília.

 

Adoro morar em Brasília. Moro numa chácara na EPTG, entre o Guará e Taguatinga, uma península cercada por dois córregos e mata ciliar, que lhe dá um clima mais ameno, com mais frio. Tenho um empreendimento, o Agroturismo Verde Perto, um restaurante e Pesque-Pague, que muito me orgulha.

 

Quero realizar na minha aposentadoria o sonho de concluir e publicar um livro que iniciei chamado Sexyteen – Educação Sexual para Adolescentes. (CFP)