Segunda, 29 Abril 2024
A+ R A-

Francisco Mauro Brasil de Holanda

Francisco Mauro Holanda Cavalcante (Fortaleza) – O diplomata que vê na pintura de Aldemir Martins a alma do Cearense

 

Francisco Mauro Brasil de Holanda nasceu em Fortaleza, em 22 de abril de 1956, na Rua Tiburcio Cavalcante, 861, no Meirelles, filho único de Clovis Coelho de Holanda e Maura Brasil de Holanda, ele de Cascavel , ela de Baturité. Ministro de Primeira Classe da Carreira de Diplomata, serviu nas Embaixadas em Londres (1986-89); Ottawa (1898-92); Roma (1998-200); e Assunção (2000-2003). É Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade de Brasília e Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics. É casado com Maria Mercedes Mateo Balmelli de Holanda e tem um filho, João Mendes.

 

O avô paterno, Luís Maurício Coelho de Holanda, Secretário da Prefeitura de Cascavel no inicio do século passado, mudou-se com a família na década de 20 para o bairro de Jacarecanga. onde montou uma mercearia. A avô, Florinda Carminda de Holanda, era também de Cascavel. O avô materno, João Mendes Brasil, de Baturité, foi para Fortaleza aproximadamente na mesma época. Ingressou na carreira militar e serviu como Capitão na antiga Escola Preparatória de Cadetes. A avó, Zulmira Cunha Camelo, era de Parangaba.

 

Do lado paterno, a história familiar foi muito marcada pelas dificuldades enfrentadas após o avô Luís haver ficado cego, numa época em que não havia os benefícios da previdência social. Muito cedo, os filhos varões tiveram de lutar pela sobrevivência. Com a ajuda do irmão Florêncio, à época proprietário de uma sapataria no centro da cidade, Clóvis – o mais jovem da família – concluiu o bacharelato de Ciências Econômicas e de Ciências Contábeis na Universidade Federal do Ceará, onde conheceu Maura, sua esposa e companheira de toda a vida. Tiveram entre os companheiros de turma José Dias Macedo, Hélio de Souza Melo e Denizard Macedo.

 

Do lado materno, uma memória muito viva é o espírito de solidariedade do avô João Mendes para com os perseguidos políticos. À época da ditadura Vargas, as filhas, a caminho da escola, deixavam nos locais onde se escondiam os amigos cartas, jornais e até ajuda material. Um deles, o Desembargador Faustino de Albuquerque e Sousa, viria a ser o primeiro governador na redemocratização, entre 1947 e 1951 "O espírito de coragem e desprendimento de um Avô levou-me a dar ao meu único Filho o nome de João Mendes".

 

Em circunstâncias parecidas, a história se repetiu em abril de 1964, no início do regime militar. "Acordei com um barulho em casa e, chegando à sala de jantar, encontrei meus pais, meu tio Olavo e nosso primo, Lauro Severiano Maciel, advogado trabalhista muito conhecido e então pré-candidato ao Senado, pelo PTB. Timidamente, perguntei ao meu Pai o que estava acontecendo. Ele se limitou a responder que nosso primo Lauro ficaria uns dias conosco. Nunca ouvi de meus pais qualquer juízo de valor sobre as circunstâncias políticas da situação. Sabia apenas que o Lauro era nosso primo, e que era isso que interessava. Isso me ensinou que a solidariedade vale mais do que a ideologia".

 

"Muitas outras memórias carrego do Ceará. Uma delas era o encontro da família na Fazenda Gaia, em Cascavel, de propriedade de meu tio Júlio Holanda, casado com minha tia Florinda. À noite, todos nos reuníamos numa varanda, que meu pranteado primo César Coelho, radialista e jornalista, chamava de "varanda da saudade". O nome virou título de um programa seu na Rádio Uirapuru. Nos feriados de Páscoa, dedicávamos um dia para visitar minha tia Nenzinha, em Morada Nova. Saíamos cedinho, na Rural Willys americana de meu Pai. Pelo rádio (a internet da época), o Cesar avisava: tia Nenzinha, o Clóvis, a Maura, o tio Júlio, a tia Florinda e o Maurinho estão indo almoçar aí".

 

Quando saiu para o primeiro Posto em Londres, em 1986, Francisco Mauro procurou o conterrâneo Aldemir Martins, em São Paulo, e pediu que pintasse uma Jangada . “Você não acha que está pedindo demais?, perguntou Aldemir. – "Não, não acho. Se você não puder pintar a jangada, não precisa pintar nada”. A partir daí, tudo mudou. Aldemir pintou uma Jangada saindo de manha cedo, com dois jangadeiros, de peito retesado, içando a vela, a linha reta do horizonte ao fundo. “Duas coisas me chamam a atenção na pintura de Aldemir. Em primeiro lugar, o recurso constante à linha reta, queassocio à vocação do cearense de vencer desafios. Em segundo, o fato de que essa linha reta dá a impressão de mover-se. Não é uma linha burra, mas de movimento, de capacidade de ajuste a novas circunstancias".

 

Francisco Mauro atualmente é Representante (Embaixador) do Brasil junto ao Estado da Palestina.

 

Sobre Maria Mercedes, diz que é " como a jangada do Aldemir: com ela, eu sei que vou e volto".

 

(JBSG)